terça-feira, 26 de junho de 2012

Rio+20: morte de índio em aldeia no Rio está sob suspeita


Ambulância de plantão teria sido deslocada para compras em supermercado


A morte de um índio na Aldeia Kari-Oca, montada na Zona Oeste do Rio numa instalação paralela à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável - Rio+20 - está sendo investigada pelo setor de saúde da Fiocruz. De acordo com a articuladora de Políticas de Apoio na Área de Saúde da fundação, Ângela Ostritz, na noite de quinta-feira, quando o índio passou mal, a ambulância colocada à disposição das tribos teria sido deslocada por um cacique para fazer compras em um supermercado local.
De acordo com o diretor geral do Comitê Intertribal, Mariano Terena, o boletim médico do posto de saúde instalado na aldeia afirma que o índio Ismael Karajá, de 52 anos, morreu de infarto fulminante. Ele teria começado a passar mal na segunda-feira, dia 18. Com tosse e dor de cabeça, foi ao posto médico e, depois, encaminhado pela ambulância ao Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá. Lá, foi medicado com analgésico e corticoide. Na quinta-feira, dia 21, Ismael voltou a se queixar de mal-estar, desta vez com vômito e dores na cabeça, coluna e corpo. Voltou ao posto e foi novamente encaminhado para o Cardoso Fontes. Os médicos fizeram exames para descartar a suspeita de meningite. Como não apresentava rigidez no pescoço e nem febre, foi liberado após ter sido hidratado e ter recebido antitérmico, anti-inflamatório e remédio contra vômito.

Índios começam a deixar a aldeia Kari-Oca após a notícia da morte
Índios começam a deixar a aldeia Kari-Oca após a notícia da morte

O índio esteve durante todo o segundo dia em que passou mal com o cacique Iwararu Karajás, que não o acompanhou ao hospital. Ele informou que, após retornar do Cardoso Fontes, Ismael participou das atividades na aldeia normalmente, apesar de se queixar de dores no peito. Por volta das 6h da manhã desta sexta-feira, ele foi encontrado já com o corpo enrijecido, deitado em uma rede. De acordo com o boletim médico emitido para a assessoria de imprensa do Comitê Intertribal pelo posto instalado dentro da aldeia, o índio teria morrido às 4h30 da madrugada.
A Aldeia Kari-Oca, onde cerca de 420 indígenas estão reunidos, está instalada num terreno da Fiocruz. Durante o dia, a prefeitura disponibilizou médicos e enfermeiros para atendimento. A Fiocruz e a empresa Savemed disponibilizaram, cada uma, uma ambulância e profissionais de saúde durante 24h. Quando Ismael procurou atendimento na noite de ontem, a ambulância da Fiocruz havia levado uma índia que estava com dores abdominais ao hospital. A outra, da Savemed, é que estaria num supermercado.
De acordo com a articuladora de Políticas de Apoio na Área de Saúde da Fiocruz, Ângela Ostritz, todas as informações e relatos estão sendo recolhidos e serão enviados para o Comitê Intertribal, que deverá repassar para o Ministério da Saúde e a Vigilância Sanitária, que deverão encaminhá-los para uma investigação.
Fome e comida estragada
Este não foi o primeiro problema enfrentado pelos índios da Kari-Oca. Durante a semana, denúncias davam conta de que a comida servida era pousa e estava, muitas vezes, estragada, provocando fome e diarreia. Os ministérios da Justiça, dos Esportes, a Vigilância Sanitária e a Fiocruz cancelaram o contrato com a empresa que fornecia a comida na última terça-feira (19) e, desde então, não foram registradas novas reclamações.
No fim da tarde desta sexta-feira, os índios começaram a deixar a aldeia. As festividades marcadas para hoje foram canceladas e dois pajés realizaram uma reza em homenagem ao índio morto.
Noticia publicada em   no Jornal do Brasil por Carolina Mazzi
http://www.jb.com.br/ambiental/noticias/2012/06/22/rio20-morte-de-indio-em-aldeia-no-rio-esta-sob-suspeita/