Um grupo de índios participantes da Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo, passou mal após ingerir o almoço fornecido pela organização do evento na tarde deste domingo. O incidente chegou a interromper um dos principais debates do evento, que discutia soberania alimentar. O grupo foi medicado pela equipe de plantão no evento e liberado em seguida.
Depois de passar o dia à base de pão com mortadela, os índios da etnia Pataxó, da Bahia, que participam da Cúpula dos Povos, esperam ter um jantar mais saudável hoje (17) no Acampamento Terra Livre, instalado no Sambódromo, no centro da cidade. Eles tiveram que recorrer ao sanduíche porque as quentinhas servidas no almoço pela organização do evento para representantes de cerca de 15 etnias estavam estragadas.
A denúncia foi feita durante um debate sobre soberania alimentar, no Aterro do Flamengo, durante evento paralelo à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). Os índios receberam as marmitas com arroz, macarrão, feijão e carne estragados, que foram recusadas imediatamente pelas lideranças. Não há relatos de doentes.
Da etnia Yanomami, o índio Kopenão, de Roraima, disse que ficou indignado ao receber a marmita com alimentos podres. "Não é comida para cachorro, é comida contaminada que se dá para os indígenas", reclamou. "Somos seres humanos. Nem animal comia aquilo". Segundo ele, a carne estava ruim e dava para sentir o cheiro ao abrir a quentinha. "Vimos na hora", completou.
Liderança da Aldeia Guaxuma, de Porto Seguro (BA), Mucaxo Pataxó também estava entre os que receberam o almoço estragado. "Não comi porque dava para reconhecer. Como representante dos nossos parentes aqui, na hora vi a comida não dava para comer e devolvi. A gente tem costume de coisa boa, apesar de ser índio. Por que tratam a gente assim?"
Se dizendo muito aborrecido, o representante da etnia Xerente, Srewe, de Tocantins, um dos que participou do protesto durante a tarde, contou que foi preciso interromper o debate para relatar a grave situação. "Desde ontem (16) já tinha reclamação que a comida não era de qualidade. Hoje, infelizmente, os povos indígenas não aguentaram. Não estamos acostumados a isso."
Logo que a comida foi distribuída por funcionários da empresa fornecedora, os índios reclamaram do cheiro de azedo dos alimentos e bloqueou o acesso à tenda onde aconteceria o debate. Na refeição fornecida aos indígenas, as quentinhas continham arroz, feijão e carne. Os participantes que chegaram a ingerir os alimentos reclamaram de fortes dores no estômago, tontura e muitos chegaram a vomitar próximo à entrada da tenda de debates.
“Minha pressão baixou muito e eu senti que ia desmaiar, a visão ficou escura. Um amigo que me levou ao posto médico”, afirmou Anderson Santos, de 21 anos, da etnia Pakuru, do oeste da Bahia. Após passar mal, ele foi medicado com uma injeção contra enjoo. A refeição estragada era a primeira alimentação deles fornecida pelos organizadores do evento.
“Esse fato mostra que ainda somos tratados como verdadeiros selvagens. As pessoas ainda têm esse preconceito contra os povos indígenas”, afirmou Cristiano Santos, de 18 anos, integrante da aldeia Pakuru.
Responsável pelo Acampamento Terra Livre, inaugurado para 1,7 mil índios na última sexta-feira (15), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) informou que suspendeu o contrato com a empresa fornecedora do almoço. Para o jantar deste domingo, e para as demais refeições até dia 22, outra empresa foi contratada às pressas.
A organização da Cúpula afirmou que providenciaria a substituição da empresa responsável pelo fornecimento das refeições ainda na noite deste domingo. De acordo com o coordenador da delegação indígena, Paolino Montejo, o fornecimento de alimentos teve que ser reforçado para atender a uma demanda extra de participantes e por isso não houve acompanhamento da produção.
Fonte: Veja.com e Agencia Brasil