sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Parque Indígena do Xingu recebe duas Casas para armazenar sementes florestais

O Polo Pavuru e a Aldeia Piyulaga possuem agora Casas de Sementes, locais apropriados para armazenar sementes florestais coletadas pelos indígenas do Parque Indígena do Xingu. Elas entraram em funcionamento no mês de dezembro.
Conforme Oreme Ikpeng, coordenador do Movimento das Mulheres Yarang, a Casa é muito importante para a qualidade, quantidade da produção e organização da atividade, que contribui muito para a gestão do grupo. ”Quando não tinha Casa de Sementes, a gente fazia muita coleta, mas não tinha lugar adequado para guardar para o ano seguinte. Por exemplo, as sementes que caem na época da chuva, em janeiro, fevereiro, a gente nem colocava no potencial. Agora eu posso orientar as coletoras a coletarem essas sementes que caem antes da lista de pedidos chegar e isso vai aumentar a produção com certeza, porque vamos coletar essas sementes também. Antes a gente não tinha esse local específico, então colocava na Mawo (casa de Cultura dos Ikpeng), ficava uma bagunça e tinha que fazer tudo correndo para não atrapalhar o trabalho de outras pessoas. Agora temos um lugar organizado que podemos pesar, guardar material de coleta [peneiras, luvas, tesouras e balança] e material de escritório da gestão. Ou seja, a Casa contribui para a qualidade e quantidade da produção, e também para a organização do nosso trabalho”.
Tirawa Waurá, coordenador do Grupo de Coletores da Aldeia Piyulaga, falou que a Casa de Sementes irá facilitar o trabalho. “Para mim é muito bom, facilita o nosso trabalho, para armazenar a nossa semente, isso é muito importante pra mim… A ideia para frente, nós queremos fazer um viveiro perto da casinha de sementes, para ver o que é semente boa. Essa é a luta da comunidade”. A coletora Apulata Waurá deseja que a Rede de Sementes do Xingu continue trabalhando com os indígenas. “Eu penso de vocês continuar trabalhando com a gente, não pode esquecer de nós, pode continuar trabalhar com a gente, pode sempre ir lá, a gente trabalha junto, não pode abandonar a gente”.
A construção de Casas de Sementes próximas ao local de produção, faz parte da estratégia da Rede de Sementes do Xingu de controle da qualidade das sementes em todas as etapas do processo produtivo, garantindo a qualidade da produção. Além de um local mais adequado para o armazenamento temporário das sementes, a estrutura física aperfeiçoa a análise visual de qualidade sanitária, que os coordenadores indígenas já fazem nos seus grupos após os próprios coletores fazerem o próprio controle.
Estas estruturas são especialmente importantes no contexto dos grupos de coleta do Parque Indígena do Xingu, onde a logística de transporte até a Casa de Sementes de Canarana é limitante para o escoamento contínuo da produção. Por isso, mesmo que as coletoras do Movimento das Mulheres Yarang e do grupo da aldeia Piyulaga há anos demandavam esta construção, que foi viabilizada com recursos do Projeto Sociobiodiversidade Produtiva no Xingu financiado pelo Fundo Amazônia/BNDES
As Casas de Sementes serão administradas pelas associações indígenas locais, Associação Indígena Moygu Comunidade Ikpeng (AIMCI) e Associação Tulukai, que fazem a gestão da iniciativa nas comunidades em parceria com a Rede de Sementes do Xingu nos grupos de coleta do Movimento das Mulheres Yarang (aldeias Moygu e Arayo do povo Ikpeng) e da aldeia Piyulaga (povo Waurá).
(Texto e fotos: Dannyel Sá – ISA; colaborou: Rafael Govari – ISA)
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Casa de Sementes no Polo Pavuru
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Casa de Sementes na Aldeia Piyulaga
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Inauguração sempre tem que ter comida

POVO TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA É ALVEJADO POR PISTOLEIROS

POVO TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA É ALVEJADO POR PISTOLEIROS (27/01/2016) NUMA "REINTEGRAÇÃO" E PODE SOFRER NOVAS AGRESSÕES AMANHÃ (28/0/2016) - SEXTO VÍDEO

(COM TODOS OS OUTROS VÍDEOS LINKADOS)

(Ilhéus/Bahia)
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Por Casé Angatu
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"Íamos impedir a reintegração de posse com nossas forças que vem dos Encantados.
Mas pistoleiros atiraram na gente e corremos pro meio da mata.
Depois eles fugiram porque chegaram Parentes de todo canto da mata".
(Frase de um de nossos Parentes ao comemorarmos a fuga dos invasores)
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Pois foi assim: acordamos (27/01/2016) aqui em nossa Olivença Encantada com a notícia que iríamos sofrer uma "reintegração de posse" (na nossa opinião: invasão de terras justificada juridicamente por aqueles que nos roubaram). De fato ela ("invasão de posse") ocorreu com várias caçambas de areia ferindo nossa Mãe Terra.
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Resolvemos, como Índios e filhos da natureza que somos, reagir e questionar o que estava acontecendo. Pensávamos que iríamos encontrar as autoridades. Mas não foi exatamente o que ocorreu.
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Saíamos da nossa Aldeia no meio da mata para encontrarmos nossos Parentes que já tinham saído. Íamos reforçar a resistência natural contra mais uma injusta reintegração de posse a favor de um dos areias criminosos autorizados por esta justiça. Areais que desmatam nossa natureza. Este areal criminoso em questão já atua na região à anos desmatando nosso Território e causando conflitos e dor. Em 2011, por causa deste areal criminoso que mudou de nome, foi quando ocorreu a prisão injusta de alguns de nossos Parentes e a perda da perna de um dos índios Tupinambá que resistiram às ações de devastação.
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Depois disto este mesmo areal, após mudar de nome, conseguiu uma nova autorização para explorar areia em Olivença - Território Indígena Tupinambá. Por isto também alguns de nossos Parentes resolveram dá um basta nisto e retomaram a área que está em plena devastação pela ação deste areal destruidor da natureza e vidas.
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Qual a nossa surpresa: não é que a justiça deu “reintegração de posse” a favor do areal criminoso.
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Na ação de “reintegração” (na nossa opinião foi uma invasão) as autoridades policiais até estavam lá, como demonstram algumas de nossas imagens. Porém, também estavam pistoleiros que atiraram na gente aleatoriamente.
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Vínhamos da mata e só ouvíamos os tiros. Como éramos em muitos índios que chegávamos os pistoleiros ficaram com medo e fugiram. Nossa energia guerreira ancestral e advinda dos Encantados da mata foram nossas armas para expulsar os inimigos agressores. Um de nossos Parentes teve até seus documentos roupados e, graças as nossas forças, ninguém foi ferido.
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Porém, indagamos:
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- que justiça é esta que permite um areal que possui o falso nome de mineradora desmatar a mata sagrada e um dos poucos vestígios da mata atlântica ?
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- que justiça é esta que possibilita o funcionamento deste mesmo areal (mineradora) que, por causa de sua ganância, já criou uma situação de conflito em 2011?
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- que justiça é este que "permite" pistoleiros atirarem em Índios desarmados que reivindicam a preservação da natureza e os mesmos não são presos, muitos menos seus mandantes?
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Por isto conclamamos à todas e todos à divulgarem esta postagem pois: amanhã/hoje (28/01/2016) estaremos de novo protegendo nosso Território Sagrado, Encantado e Ancestral contra os que querem a natureza como mercadoria.
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Questionamos, novamente, a justiça brasileira:
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- a reintegração de posse a favor do areal irá continuar?
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- vocês irão responder á bala aqueles que lutam pela natureza e/ou os pistoleiros, novamente, estarão presentes?
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- irão nos prender por formação de quadrilha e desacato a autoridade, como fazem quando desejamos proteger o Território?
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Pois saibam então que as balas de hoje (27/01/2016), disparadas por pistoleiros só demonstram que estamos certos na luta por aquilo que somos ...
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Somos Índios e Somos a Terra e por ela lutaremos e viveremos!
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"Somos Tupinambá
Que não nega nossa nação
Somos geniosos
Mas temos bom coração

Somos bravos guerreiros
Por nossas terras vamos lutar
Espalhar nossas sementes
E o solo germinar"
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AWERÊ!

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Os vídeos que seguem foram feitos por Letycia Hair no calor dos acontecimentos. Eles revelam nossa revolta com o que estava acontecendo. Segundo Letycia: "Pra conseguir fazer esse vídeo é claro com a total ajuda dos parentes tivemos que dar a volta por dentro da mata circuncidando a polícia que nos atacava com tiros, até que encontasse-mos um ponto seguro de visualização. De longe avistamos guardas à pé, onde me escondo na mata, mas não paro de filmar e testemunhar o descaso e a violência a que estavam dispostos. Nós estávamos desarmados seguindo a penas o instinto de sobrevivência e de preservação."








Sem Consenso, PEC da Demarcação de Terras Indígenas Está Pronta Para Votação

Novas regras para demarcação de terras indígenas estão prontas para votação no Plenário da Câmara. No entanto, o destino da polêmica proposta vai depender do diálogo entre parlamentares ligados ao agronegócio e aqueles identificados com causas socioambientais.
A chamada PEC 215 (proposta de emenda à Constituição) muda a Constituição e determina que a demarcação de terras indígenas passará a ser feita por lei de iniciativa do Executivo, e não mais por decreto, como acontece hoje. Na prática, essa medida dá ao Congresso Nacional a palavra final sobre novas demarcações.

O texto também proíbe a ampliação das terras já demarcadas, garante indenização aos proprietários de áreas dentro dessas reservas e fixa o dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição, como marco temporal para definir o que são terras permanentemente ocupadas por indígenas e quilombolas.

Para reduzir as críticas à proposta, o relator da PEC e coordenador jurídico da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), definiu que os projetos de lei sobre demarcações terão tramitação mais rápida, semelhante à de medida provisória.

"O que mais se censura na proposta é que a criação de reservas indígenas se tornaria praticamente irrealizável, porque os projetos viriam do Executivo e, aqui no Congresso, não seriam encaminhados. Então, para evitar isso, obrigatoriamente nós iremos votar tão logo o Executivo encaminhe a proposta de criação da reserva".

A bancada do agronegócio defende a medida para conter supostas irregularidades nas demarcações de terra, que prejudicam os interesses dos produtores rurais. Denúncias de fraudes em laudos antropológicos, por exemplo, estão em investigação na CPI da Funai e do Incra, na Câmara.

Por outro lado, os movimentos socioambientais avaliam que a transferência da decisão de demarcações do Executivo para o Congresso representaria o fim das demarcações, devido à força da bancada do agronegócio na Câmara e no Senado.

"Eles pretendem que os 228 processos de homologação [de terras indígenas] sejam simplesmente sepultados e os 144 processos sub judice sejam engavetados pela Justiça, em favor dos latifundiários e dos agronegocistas. E, ao mesmo tempo, os 1.611 processos pendentes, relacionados a terras quilombolas, também seriam definitivamente jogados no lixo da história", afirma o deputado Edmilson Rodrigues (Psol-PA) e integrante da Frente ParlamentarAmbientalista.

Manifestações
O conflito fundiário entre indígenas e produtores rurais acirra ainda mais os ânimos em torno dessa discussão.
O guarani-kaiowá Daniel Vasques, integrante da Articulação dos Povos Indígenas, promete novas manifestações para barrar a PEC 215: "Filho e sangue do Brasil não vai se calar, em momento algum, diante desse genocídio pronunciado pela PEC 215. Só resta resistir com todas as forças, todas as lágrimas e sangue, e vamos chegar lá".

Já o diretor do Instituto Pensar Agro, João Henrique Hummel, avisa que os produtores rurais também estão mobilizados em defesa da PEC e em busca de segurança jurídica: "O cidadão brasileiro que está na insegurança jurídica da sua propriedade, porque quem atestou que aquela terra poderia ser vendida e ocupada foi o Estado, que, inclusive, deu a escritura e incentivos para que ele fosse para aquela região para povoar e produzir".

Tramitação
A PEC 215/00 tramita há quase 16 anos na Câmara e foi aprovada em comissão especial, em outubro do ano passado, depois de muito bate-boca entre os parlamentares. Na ocasião, PT, PCdoB, PV, Psol e Rede se manifestaram contra a proposta. Houve divisão no PSB, enquanto os demais partidos com representação na comissão aprovaram o texto.

Para a aprovação definitiva de uma proposta de emenda à Constituição, são necessários os votos favoráveis de, pelo menos, 308 deputados e 49 senadores em dois turnos de votação nos Plenários da Câmara e do Senado. Alguns deputados já anunciaram que vão pedir a inconstitucionalidade da PEC 215/00 no Supremo Tribunal Federal (STF), em caso de aprovação da proposta no Congresso.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Índios Matis Ocupam Prédio da Funai em Atalaia do Norte Após Retirarem Coordenador à Força

A assessoria de imprensa do órgão em Brasília confirmou a ocupação, mas desconhece as reivindicações dos indígenas 


O coordenador Bruno Pereira foi retirado à força do prédio da Funai no município por indígenas armados
O coordenador Bruno Pereira foi retirado à força do prédio da Funai no município por indígenas armados (Reprodução/Blog Jambo Verde)
Insatisfeitos com a atual coordenação da Fundação Nacional do Índio (Funai) no município amazonense de Atalaia do Norte (a 1.138 quilômetros da capital Manaus), aproximadamente 100 indígenas das etnias Matis, Marubo e Kanamari, dentre outras, ocuparam a sede da órgão na manhã desta terça-feira (19). Os indígenas chegaram a retirar forçadamente o coordenador da unidade, Bruno Pereira, do qual pedem a exoneração do posto. 

A informação foi confirmada por um dos integrantes do Movimento dos Povos Indígena do Vale do Javari, Manoel Chorimpa. Segundo ele, durante toda a tarde desta terça-feira, os manifestantes participaram de um reunião para definir um nome que possa ser indicado para assumir a coordenação no município. Nesta quarta-feira, os indígenas devem concluir o documento com a indicação de alguém para assumir o cargo.

O documento será encaminhado à sede nacional da Funai, em Brasília, ainda nesta quarta. “A insatisfação vem desde o ano passado, quando houve um conflito entre as etnias Matis e Korubo. Os Matis pediram para que a Funai monitorasse as aldeias deles, por estarem sendo intimidados pelos Korubo, mas nada foi feito”, explicou Chorimpa. 


Por enquanto, os indígenas continuam ocupando a sede da Funai no município e só pretendem sair quando o novo coordenador for escolhido. A reportagem de A  CRÍTICA tentou contato com o coordenador, mas ele não atendeu as ligações da equipe.

A coordenação regional do Vale do Javari, com sede no município de Atalaia do Norte, tem sob sua jurisdição seis Coordenações Técnicas Locais (CTLs), trabalhando especificamente com os povos Matis, Mayuruna e Marubo.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Morre Índio Agredido com Chutes na Cabeça Enquanto Dormia em Rua de BH

Vítima, que ainda não foi identificada, estava internada no Hospital João XXIII onde faleceu no início da noite desta sexta-feira (15); suspeito segue sendo procurado pela polícia...


Morreu, no início da noite desta sexta-feira (15), o índio ainda não identificado que teve um afundamento de crânio durante a madrugada após ser agredido por um jovem com chutes na cabeça enquanto dormia, no Centro de Belo Horizonte. Ele estava internado em estado grave desde esta manhã no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII.

A unidade de saúde não repassou outros detalhes sobre o quadro da vítima, que chegou sem identificação e foi encaminhada para a emergência da unidade de saúde. Ele permaneceu internado e respirava com a ajuda de aparelhos até esta noite, quando não resistiu à gravidade dos ferimentos.

De acordo com o sargento Sandro Matos, da 6ª Companhia do 1º Batalhão da Polícia Militar, que atendeu à ocorrência, o morador de rua teria ficado mais de cinco horas esperando o socorro. "O crime aconteceu por volta das 2 horas da manhã. Depois, ainda furtaram uma sacola que estava debaixo dele", contou o militar. 

Ainda conforme o sargento, imagens de câmeras de segurança mostram que a vítima estava deitada na rua Vinte e Um de Abril, quando o criminoso chegou e a agrediu sem falar nada. Nas imagens é possível ver que o suspeito, após desferir vários chutes e pisadas na cabeça da vítima, chega a sair de perto para disfarçar enquanto veículos passam pela rua, mas volta e continua com as agressões. Depois, o suspeito vai embora, sem levar nada.

Assim que a PM chegou ao local, nesta manhã, acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que socorreu o índio para o Hospital de Pronto-socorro (HPS) João XXIII. O suspeito segue sendo procurado pela PM. "É um cidadão comum, estava muito bem vestido. Tudo indica ser crime por intolerância", finalizou Matos.
Comerciantes da região afirmam que o índio tinha bom relacionamento com todos que passavam pelo local. "Ele costuma dormir na avenida do Contorno, no bairro Floresta, ele era amigo de todos aqui na região. Além disso, ele não tinha problema com ninguém", contou um trabalhador que não quis se identificar.

Veja as imagens de câmeras de segurança no momento da agressão: 


Nota: Parece que as violências que levam indígenas à morte nas madrugadas do Brasil continuam sendo uma brincadeira como foi dito pelos 5 acusados de ter ateado fogo no índio Galdino de Jesus dos Santos da etnia Pataxó hã-hã-hãe em Brasília em 20 de Abril de 1997. Quem sabe a criança indígena de apenas 2 anos de idade que foi degolada por um desconhecido na rodoviária de Santa Catarina também não foi só uma vítima de mais uma "brincadeira". Veremos como ficarão tais revoltantes casos perante a justiça brasileira.
                                                                                                                Frente de Ação Pró-Xingu

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O Brutal Assassinato de Vítor, Um Menino Kaingang de Apenas 2 Anos

menino
Enquanto o mundo parava para festejar a entrada do novo ano, na cidade de Imbituba, litoral catarinense, o pequeno Vítor, criança Kaingang de dois anos de idade, era brutalmente assassinado no colo de sua mãe.

Segundo o Conselho Indigenista Missionário, Regional Sul, o crime ocorreu na rodoviária de Imbituba, enquanto o pequeno Vitor estava sendo amamentado pela mãe, Sônia da Silva. Um homem se aproximou, acariciou seu rosto e, com um estilete, o degolou. Enquanto a mãe e o pai Arcelino Pinto, desesperados, tentavam socorrer a criança, o assassino seguiu caminhando pela rodoviária até desaparecer.

“Vítor faleceu em um local que a família Kaingang imaginava ser seguro. As rodoviárias são espaços frequentemente escolhidos pelos Kaingang para descansar, quando estes se deslocam das aldeias para buscar locais de comercialização de seus produtos”, explica a nota do CIMI. A família de Vítor é originária da Aldeia Kondá, localizada no município de Chapecó, Oeste de Santa Catarina. Vítor estava na rodoviária com os pais e outros dois irmãos, um de seis anos e outro de 12. O corpo do menino foi enterrado às 16 horas de sexta-feira (1º), no cemitério da Aldeia Condá, em Chapecó. A tristeza dividia espaço com a indignação e a pergunta: por que tamanha crueldade?
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Pertences do garoto na rodoviária de Imbituba

A vice-cacique da Aldeia Condá e tia do menino, Márcia Rodrigues, lembra que no dia em que a família de Vitor saiu de Chapecó, 18 de dezembro, para vender artesanato no litoral e garantir o sustento da família, ele foi despedir-se dela: “Não imaginei que seria a última vez que o veria”.
Márcia sempre guardava as roupas que não serviam mais para seus filhos e dava para Vitor, um menino alegre e muito ativo. 

Ela suspeita que o crime possa ser resquício de preconceito contra os indígenas. Segundo o CIMI, trata-se de um crime brutal, um ato covarde, praticado contra uma criança indefesa, que denota a desumanidade e o ódio contra outro ser humano. Um tipo de crime que se sustenta no desejo de banir e exterminar os povos indígenas.

“A Polícia Militar da região deu por desvendado o fato em poucos minutos. Prendeu, num bairro pobre, um presidiário, que usufruía do benefício do indulto de Natal e Ano Novo. Aparentemente tudo estava solucionado. Mas na delegacia da Polícia Civil de Imbituba o delegado ouviu o pai e a mãe de Vítor, e ainda outra testemunha, um taxista que estava no local na hora do crime. O homem indicado pela Polícia Militar como autor do assassinato não foi reconhecido pelas três testemunhas”, revela a nota do CIMI.

Ainda segundo a nota, “informações colhidas na delegacia por um advogado que acompanhou a família Kaingang dão conta de que esse cruel assassinato pode estar relacionado a ações de grupos neonazistas ou de outras correntes segregacionistas, que difundem o ódio e protagonizam a violência contra índios, negros, pobres, homossexuais e mulheres”.
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No verão, os índios descem para o litoral, onde vendem artesanato
“O Conselho Indigenista Missionário manifesta preocupação com o clima de intolerância que se propaga, na região sul do país, contra os povos indígenas. 

Um racismo – às vezes velado, às vezes explícito – é difundido através de meios de comunicação de massa e em redes sociais. Ocorrem, com certa frequência, manifestações públicas de parlamentares ligados ao latifúndio e ao agronegócio contrários aos direitos dos povos indígenas e que incitam a população contra estes povos. Em todo o país registram-se casos de violência e de intolerância contra indígenas e quilombolas, manifestadas concretamente nas perseguições, nas práticas de discriminação, na expulsão e no assassinato de indígenas. 

Nestes últimos dias pelo menos cinco indígenas foram assassinados no Maranhão, Tocantins, Paraná e Santa Catarina”, concluiu a nota do CIMI, pedindo imediata resposta à sociedade do caso.


No Diário Catarinense, Viviane Bevilacqua publicou o seguinte texto:

Nenhuma cena me emocionou mais no primeiro dia de 2016 do que o corpo daquele menininho de apenas dois aninhos de idade chegando num carro de necrotério à reserva indígena Aldeia Condá, onde a família morava, lá no interior de Chapecó. Em uma igreja erguida com pedaços de madeira e de chão batido, retratando a simplicidade do local onde eles viviam, parentes e amigos da família esperavam para velar e dar um sepultamento digno ao garotinho, brutalmente assassinado alguns dias atrás.

Como alguém pode matar a sangue frio uma criança de dois anos, ainda mais no exato momento em que ele mamava no peito de sua mãe, no lugar onde julgamos ser o mais seguro do mundo quando somos crianças? O que passava pela cabeça deste monstro quando desferiu um golpe mortal, não se sabe ainda com que objeto cortante, pelo pescocinho da vítima? Era vingança contra os pais do menino? Ódio racista por se tratar de uma família de indígenas? Muita droga e álcool no cérebro? Um rompante de loucura? Na verdade, os motivos, a esta altura, é o que menos interessa. Saber o que houve não vai trazer a criança de volta. “Ele era a alegria da aldeia”, disse um tio, ainda incrédulo com tamanha maldade. O sorriso e a alegria do pequeno indiozinho ficarão apenas na lembrança.

O que importa, mesmo, é achar o criminoso, e puni-lo exemplarmente. Esse homem deveria apodrecer na cadeia _ isso, se o encontrarem. Até o momento em que escrevo esta coluna, a polícia prendeu o segundo suspeito. Ainda não havia certeza da autoria. Dizem que a justiça é igual para todos. Tomara que seja mesmo, e que este caso não caia no esquecimento. 

A família, carente como são todos os indígenas no Brasil, tinha vindo de Chapecó para Imbituba, no litoral, vender artesanato nos meses de verão. Seria a chance de melhorar a renda e ganhar um extra para o restante do ano. O pai, a mãe e o menino dormiram a primeira noite na rodoviária, e na manhã seguinte, antes que pudesse começar a expor seus produtos, aconteceu a tragédia.

Vitor Pinto era o nome do garotinho, que veio para o litoral e nem chegou a conhecer o mar. Os pais Sonia Silva e Arcelino Pinto, da etnia Kaingang, já imaginavam a alegria do menino ao entrar na água salgada, brincar nas ondinhas e correr pela areia. Não houve tempo para nada disso. 

Nem conseguiram sair da rodoviária. Voltaram para Chapecó para enterrar o filho. Não enterremos, também, o direito deles de exigirem justiça. Se é verdade que nem uma vida vale mais do que a outra, a morte deste indiozinho não vai ficar impune.

No alto, foto do enterro do menino Vítor, de Darci Debona / RBS