Os índios que mantêm invadido o principal canteiro de construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no sudoeste do Pará, anunciaram no início da tarde desta segunda-feira (6) que irão continuar a manifestação.
O canteiro Belo Monte, que tem 5.000 operários, está com as atividades paradas há cinco dias em razão do protesto. Os trabalhos continuam nos outros canteiros.
O índio Cândido Mundurucu afirmou que a obra vai ficar parada até que o governo federal envie o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) para dialogar com as lideranças, em Vitória do Xingu (945 km de Belém).
“A gente não vai sair da obra. Queremos falar com alguém que tome decisões, o Gilberto Carvalho”, afirmou. Procurada, a Secretaria-Geral não se manifestou.
A manifestação, segundo os organizadores, reúne cerca de 180 índios de oito etnias. Eles reivindicam que o governo federal regulamente o mecanismo de consulta prévia sobre obras que interfiram em terras indígenas, que paralise obras e estudos de hidrelétricas nos rios Xingu, Tapajós e Teles Pires, e suspenda o envio de tropas da Força Nacional de Segurança às comunidades.
Pela manhã havia expectativa de saída pacífica dos índios, depois que o juiz federal Sérgio Guedes, de Altamira, negou pedido de reintegração de posse feito pelas empresas responsáveis pela obra, a Norte Energia e o CCBM (Consórcio Construtor de Belo Monte).
Apontando risco de conflito entre índios e militares, o juiz determinou que a Funai (Fundação Nacional do Índio) inicie um processo pacífico da retirada dos índios na obra. A Funai não havia se manifestado sobre a decisão do juiz até a publicação desta reportagem.
Homens da Polícia Militar e da Força Nacional de Segurança estão nas imediações do canteiro. Representantes do movimento Xingu Vivo, da Igreja Católica e da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos apoiam o protesto dos índios no local.
Segundo o CCBM, dos 5.000 operários parados no canteiro, 4.000 continuam alojados dentro da obra. O consórcio não informou qual é o eventual prejuízo causado pela interrupção da obra e disse que mantém o controle das portarias do canteiro.
O deputado federal padre Tom (PT-RO), que visitou o protesto neste domingo (5) e preside a Frente Parlamentar dos Povos Indígenas da Câmara, apontou ausência do governo federal na região de Belo Monte.
“Constatei uma falta de diálogo e uma falta de representação do governo aqui. O que existe são funcionários da empresa e a presença ostensiva da Força Nacional de Segurança. Até para conseguir entrar sozinho no canteiro foi uma luta”, afirmou.
Na sexta-feira (3), a Justiça do Pará determinou, a pedido das empresas, a saída de não índios que acompanhavam o protesto no canteiro. Dois jornalistas –um brasileiro e um francês– e um ativista deixaram o local acompanhados por um oficial de Justiça.
A Norte Energia afirmou que os índios que protestam na obra não têm pauta de reivindicação relacionada à empresa. Por isso, afirma, ingressou com nova ação na Justiça Federal de Altamira solicitando a desocupação do canteiro. A empresa disse que tem atuado para manter a segurança no local e que representantes do governo federal estão na região.
Fonte: Folha de São Paulo