sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Indígena do AM desconhecido do movimento é indicado à presidência da Funai

Natanael Rodrigues, da etnia munducuru, Parente nasceu em aldeia do município de Manicoré


O indígena amazonense Natanael Rodrigues Parente, 39, da etnia mundurucu, teve seu nome indicado pelo senador Eduardo Lopes (PRB/RJ) para a presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai), em ofício enviado no último dia 7 à presidência da República, à Casa Civil e ao Ministério da Justiça.
O ofício foi respaldado por um expressivo abaixo-assinado do dia 28 de junho no qual consta o nome de vários parlamentes do Senado e da Câmara Federal da base aliada e da oposição ao governo federal e de diferentes Estados do país. Entre os parlamentes apoiadores de Natanael estão os senadores Eduardo Braga (PMDB/AM), Paulo Paim (PT/RS), Cristóvam Buarque (PDT/DF) e Álvaro Dias (PSDB/PR) e os deputados federais do Amazonas Carlos Souza e Receba Garcia, ambos do PP, e de Jean Willis (PSOL/RJ).
Manicoré
Desconhecido do movimento indígena no Amazonas, Natanael Rodrigues Parente é filiado ao mesmo partido do senador Eduardo Lopes. Em entrevista ao jornal A CRÍTICA nesta quinta-feira (09) por telefone, de Brasília, Parente afirmou que seu nome surgiu após debates que ocorreram nos corredores do Congresso Nacional antes da Rio+20, conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) realizada em junho passado.
Nascido na aldeia Pataqua, no município de Manicoré, Parente contou que atualmente “presta serviço” para o Ibama. “Passo cinco dias aqui em Brasília e os finais de semana vou para minha aldeia”, disse Parente.
Indagado se endossa sua indicação pelos parlamentares, ele confirmou e se disse disposto a assumir a presidência da Funai. O indígena também destacou que, apesar de não pertencer a nenhuma organização, “vários deputados” já conhecem a sua luta em favor dos povos indígenas.
“Não sou vinculado a nenhuma ong. Meu compromisso é com a comunidade indígena. Estou preparado para defender os indígenas. Os povos precisam ser ouvidos. E o fato de eu pertencer a um partido não influenciará na administração. Não serei obrigado a fazer o que o partido determinar”, afirmou Parente. A reportagem tentou várias vezes ouvir o senador Eduardo Lopes por meio de sua assessoria de imprensa, mas não conseguiu.
Surpresa
A indicação do nome de Natanael Rodrigues Parente surpreendeu a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Ao ser informada pela reportagem, a vice-coordenadora da Coiab, Sônia Guajajara, se disse preocupada com a articulação política que apontou o mundurucu para a presidência da Funai.
“Essa articulação está sendo feita totalmente desvinculada do movimento. Muitos ‘parentes´ defendem um indígena na presidência da Funai, apesar desta estar sucateada e sem estrutura, mas isto ocorre em conversa com as organizações indígenas regionais. Ninguém está sabendo desta situação, ninguém foi informado, nem a Coiab, nem qualquer outra organização do Nordeste ou do sul. Parece que tudo foi feito no anonimato”, disse Guajarajara, que afirmou desconhecer Natanael. Para Sõnia, para assumir a presidência do órgão, um indígena precisa dominar o conhecimento em gestão pública e administrativa.
 Consulta
Desde que foi criada, em 1967, em substituição ao Serviço de Proteção ao Índio (SPI), a Funai nunca teve um indígena na sua presidência. Muitas das lideranças indígenas cogitadas no passado surgiram de sua atuação dentro do movimento, mas as indicações nunca foram acatadas pela presidência da República.
Atualmente, a Funai é presidida pela cientista social e demógrafa Marta Azevedo, que substituiu em abril deste ano o antropólogo Márcio Meira. Marta desenvolveu durante muitos anos pesquisa na região do Alto Rio Negro (AM). A indicação de Marta resultou em uma carta de protesto da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) à presidente Dilma Rousseff, afirmando que os povos indígenas não foram consultados sobre a troca.
Fonte: A Critica.uol