quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Falecimento do Cacique ATAMAI WAURÁ.

Nota de Mayalú Txucarramãe publicada em 03/08/2012


O fato teve lugar em um hospital de Brasília, por volta do ano de 1991. Depois de
acordar de um sono conturbado, Atamai, atual chefe dos Wauja (Waurá), convalescido em
seu leito, diz à sua filha, Kamihã, que pessoas desconhecidas estavam a lhe oferecer
cuias cheias de sangue para que ele bebesse. Atamai tinha certeza de que essas
pessoas eram apapaatai.
A despeito de todo esforço dos médicos para curá-lo de uma grave infecção
nos olhos, Atamai não mostrava resposta satisfatória. Inesperadamente, numa
noite, Atamai foi acometido por intensa e contínua dor, que, conforme suas próprias
palavras, o “matou”, ou seja, colocou-o em um estado inconsciente ou, talvez, semiconsciente.
Na manhã seguinte, sua filha transmitiu, via rádio, para a aldeia wauja, a
notícia de que Atamai estava “morto”. A notícia foi recebida por sua filha mais velha,
Atsule, que imediatamente apressou-se em contratar um xamã para descobrir quem
estava a causar tamanho mal a Atamai. Assim, desde Piyulaga, a aldeia wauja, várias
sessões xamânicas foram feitas a fim de recuperar a saúde do “morto”. Horas mais
tarde, Atamai acorda e diz para Kamihã que algumas pessoas o tinham visitado,
porém, dessa vez, não lhe deram cuias de sangue, apenas chegaram sorridentes e
conversaram com ele, e então complementou: “agora me sinto melhor, mas ainda
não enxergo bem”. Contudo, seu relativo bem-estar não perdurou. Dias mais tarde,
Atamai voltou a “morrer”. Na oportunidade de uma breve recuperação, Atamai
comunica sua urgente decisão a Kamihã:

– Filha, os médicos não vão me curar, isso que eu tenho é “doença de índio”, eu
quero voltar para a aldeia, para que teus tios cuidem de mim. Meu genro ( Megaron, o marido
de Kamihã) tem que autorizar uma aeronave para me levar de volta.
“Doença de índio”? Esta é uma das principais chaves conceituais da minha
etnografia sobre os Wauja. Por “doença de índio”, Atamai simplesmente queria dizer
que ele estava com apapaatai, e que o conhecimento para livrá-lo dos mesmos era dominado por xamãs, e não por médicos". (Relato de Aristóteles Barcelos Neto)
03/08/2012 ATAMAI WAURÁ não resisti a DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) ou ao apapaatai e nos deixa... Saudades, saudades...