quinta-feira, 1 de setembro de 2011

TRAGÉDIA - INCÊNDIO NA ALDEIA KISÊDJE NO ALTO XINGU - Toda ajuda é bem vinda




O Cacique Kuiussi Suyá, mostra o estrago causado por um intenso incêndio que devastou a aldeia Ngojwêhere da etnia Kisêdje, localizada na terra indígena Wawi, tambem conhecida como região Leste Xingu, no parque indígena do xingu.


Trata-se da principal aldeia do povo Kisêdje, com cerca de 370 habitantes. A aldeia ficou conhecida no mundo quando a top Gisele Bündchen gravou um comercial no local.


O Cacique diante de sua comunidade agora destruida pelo fogo comenta: "o fogo era como um inimigo que destruiu a aldeia e depois foi embora"


O incêndio foi iniciado por volta das 13:40 da tarde, no dia 18/08/2011 , e destruiu mais da metade das casas da aldeia. Constatado a gravidade da ocorrência, o coordenador Nhonkoberi Suyá e o substituto Inukulá Kaiabi se dirigiram até o local e registraram a situação conforme relatório abaixo.


Cenário do incêndio


"No dia em que ocorreu o incêndio o Cacique estava de passagem com sua familia pela cidade de Canarana-MT. A noticia o obrigou a voltar conosco para a aldeia.


Chegando por volta das 20:00, a impressão que tivemos logo da entrada da aldeia era a de que não tinha mais aldeia, mas sim um grande acampamento em circulo. Os pilares das casas ainda estavam em chamas em meio a escuridão. Destacavam-se tambem as fogueiras das familias desabrigadas, acampadas proximas as arvores onde puderam armar algumas redes que restaram.


Na manhã seguinte pudemos observar a dimensão do que foi destruido. Das 26 casas que formavam o circulo da aldeia, apenas 9 ficaram em pé. 17 casas destruidas e 190 pessoas desabrigadas. Das casas queimadas não restou absolutamente nada a não ser alguns materiais em aço que resistiram as chamas como bicicletas, ferramentas, canos de espingardas, facões, foices, machados todos encurvados sem condições de reutilização.


Visitando cada familia ouvimos relatos do quão rápido o fogo se espalhou, não dando a menos chance de retirarem os pertences de dentro das casas.


Segundo informações o incendio se iniciou de uma queimada de lixo no dia anterior, que foi monitorada até o processo final e apagada. Possivelmente uma brasa que permaneceu no solo, voltou a incendiar com a ventania do dia seguinte, e só foi notado quando se tomou proporção maior. Moradores da casa proxima combateram o inicio do incendio quando ainda se concentrava nos capins e pomares há uns 40 metros da casa. Contam que de repende ouviram pessoas gritando que a casa estava pegando fogo. Tudo foi muito rápido.


Em meio a ventania surgiram redemoinhos que disseminou o fogo para as casas visinhas atingindo volumes cada vez maiores. Moradores subiram na tentativa de apagar o fogo dos telhados de palha, "mas o calor era insuportavel" (conta Winti Suyá.)


Houve pânico geral na aldeia quando o fogo, seguindo os redemoinhos e a direção do vento que mudavam constantemente, foi atingindo as casas. Os pretences que foram retirados e colocados mesmo a uma distancia de 30 metros pegaram fogo pela intensidade do calor das chamas. As tentativas de apagar o fogo pararam quando se começou a ouvir a munição das espingardas disparando devido ao calor. " não valia mais a pena arriscar nossas vidas" (contam os moradores)

Após registrar-mos as imagens do local e ouvir-mos os relatos, o Cacique Kuiussi mandou convocar uma reunião. E debaixo da sombra de uma mangueira reuniu os moradores para planejarem o rumo que a comunidade irá seguir de agora em diante. O Cacique expressou toda a sua lamentação pelas perdas materiais das familias, mas ressaltou que sua maior preocupação era com a integridade fisica das pessoas e estava aliviado de saber que não houve nenhum ferido. Homens e mulheres contam os prejuizos, mas concordam com o líder de que a vida dos maridos, esposas, filhos e netos era o mais importante.


" perdi minha casa mas posso construir denovo" encorajou Percorró

" perdi rede, arcos, flechas, remos, cocares, meus enfeites" lamentou outro.


Kuiussi apos ouvir a todos comunica de que está confiante de que muita gente irá ajudar a sua comunidade se reerguer. Informa que ja tem uma estimativa de perdas.


"A perdas é grande! Não podemos repor tudo para as familias, mas ja temos lista de materiais prioritários. Vamos enviar para ogs e orgãos do governo e pessoas que querem nos ajudar." afirma o Cacique.


Kuiussi se referia a lista de materiais considerados emergenciais, levantados com a ajuda dos membros da associação AIK, funcionarios da saúde e da CR_Xingu. A relação contem ferramentas para a construção das casas, ferramentas para roça, recipientes para fabricação de alimentos e materiais para levantamento de acampamentos.


O Cassique Kuiussi, diante de sua comunidade com a aldeia destruida pelas chamas, afirma que o fogo foi como um inimigo que destruiu sua aldeia e foi embora. E ressalta que isso sirva de grande lição para todos e que como o inimigo deve ser levado a serio, ser vigiado e deve ser pensada uma forma de prevenção para que outros incidentes como este não voltem a acontecer. Lembrou aos jovens do grupo de brigadista indigena em formação, que o ocorrido foi uma experiencia pra eles, que combater fogo envolve seriedade por que coloca em risco a vida das pessoas. Em seguida informa a todos sobre sua proposta para toda a comunidade.


" Mandei chamar todos voces por que tomei uma decisão sobre a nossa aldeia. Como vêem, maior parte esta destruida. Não é mais minha vontade permanecer aqui. Estou propondo a abertura de uma nova aldeia. Peço a opinião de todos."


O cacique não estava propondo mudança de região, mas a abertura de uma nova aldeia há 300 metros dali. A proposta foi aceita com unanimidade e o Cacique encerrou a reunião.

O objetivo de abrir uma nova aldeia é de se livrar de alguns problemas que a atual aldeia apresentava como enchurradas pelo terreno inclinado, que possibilita a entrada de água dentro das casas. A proxima aldeia sera projetada em um terreno mais plano. E o mais importante, o circulo da aldeia seria bem maior, de modo que as casas sejam construidas numa distancia consideravel como estrategia de segurança contra incendios. Na aldeia atual as casas tinham diatancia de 5 metros, mesmo que os Kisedje quisessem construir com distancia maior, a aldeia não suportava mais casas, o que levou algumas familias a construires suas casas nos espaços que eram possiveis.


A conversa sobre a abertura de uma nova aldeia trouxe novos planos para a comunidade. Resgatou o animo e a coragem das pessoas para se reerguerem, mesmo a reunião acontecendo do lado de casas ainda esfumaçando.


O incidente ocorrido na aldeia Ngojwêre foi o de maior volume, mas é um problema cada vez mais frequente em época de rio baixo (julho e agosto) nas aldeias do Xingu. Os xinguanos estão se concientizando de que o manejo do fogo não é mais como antigamente. Cada vez mais as chamas ficam mais dificeis de serem controladas. Sentem e sabem que algo está mudando, tudo esta mais seco. "Então acompanhando as mudanças no clima aqui e no mundo. Antes nós tocava o fogo e logo ele apagava. Hoje não acontece mais isso!" diz o Cacique.


Os Kisedjes estão mais confiantes de que terão apoio de parceiros institucionais e de pessoas amigas. Este apoio terá que vir com urgencia. As familias que não tiveram suas casas atingidas acolheram os parentes o maximo que puderam e as casas estão lotadas. Mitas familias estão acampadas ao ar livre. Nessa época faz muito frio de noite no Xingu e muitos estão agasalhados insuficientemente com o que restou das cobertas e roupas. De dia ficam a merce do sol e logo vira a epoca de chuva. Enfim, a condição em que estão expostas as familias desabrigadas, podem comprometer a saude dessas pessoas inclusive de inumeras crianças que estão entre elas.


Por Ianukulá Kaiabi Suyá


FOGO NA ALDEIA - Indio manda carta triste para enfermeira do Casai


O terrivel incendio que se abateu sobre a aldeia Nojwêre dos indios Ksedje deixou marcas pelas perdas materiais que afetou pelo menos 200 pessoas. Um dos desabrigados escreveu uma pequena carta endereçada a enferneira Íris, da Casa de apoio a saude do indio - Casai, em Querência, onde relata sua tristeza pelo ocorrido.

25 de agosto de 2011

Bom dia

Estou escrevendo para este carta para voce.
Como vai, tudo bem com voce?
Comigo ta tudo bem aqui, só minha casa que queimou tudo, eu fiquei muito triste e perdeu muita coisa.
Eu fiz sua pulseira, queimou tambem. Então era isso eu queria dizendo para voce.

Um abraço
Ass: Mbentykari K Suyá

As contribuições solidárias deves ser enviadas ao CEFIQUE.
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(66) 35 29-1760

Necessitamos de ajuda com urgencia!
Os índios Ksedjê agradecem todo o apoio e ajuda recebida.